solidão e liberdade
Se o homem que dança torto à beira dos abismos cai, e se os dois braços não são suficientes, por vezes surge (mais na ficção do que no outro lado mas surge) um braço, um terceiro braço. É ele que salva. Eis uma forma metafórica de falar das ligações afectivas que salvam, desse terceiro braço- o braço do amigo.
Digamos que o tamanho do corpo depende da quantidade de ligações- uma interpretação da frase de Novalis: a solidão não tem sempre a quantidade um. Existe a solidão magra, a solidão bem constituída e, ainda, a solidão obesa (excesso de ligações, ligações dispensáveis). Porém a sabedoria, desde os estóicos aos mestres budistas, sempre foi firme: destruir ligações ou pelo menos deixá-las cair. Não depender de: objectos, pessoas, hábitos. Desligar-se, portanto. E esta sabedoria poderá ser descrita assim: quanto mais a tua solidão se aproxima do um (1), mais tranquilo ficarás no Mundo. Objectivo: nem paixões positivas, nem negativas, tudo neutro.
As ligações são diminuições de liberdade, eis uma ideia antiga: a indiferença como sinónimo de liberdade; mas também, a ligação como estimulação indirecta do medo: as ligações aumentam os pontos onde temos medo.
O expoente máximo do entendimento da ligação, qualquer que ela seja, como ligação perigosa surge na imagem de um suplício arcaico que consistia em "atar um homem são a um cadáver"; ligação a um morto, a uma massa que não se mexe, mas que nos ameaça; massa que é, ela própria, uma matéria que assusta, que nos põe em causa.
Digamos que o tamanho do corpo depende da quantidade de ligações- uma interpretação da frase de Novalis: a solidão não tem sempre a quantidade um. Existe a solidão magra, a solidão bem constituída e, ainda, a solidão obesa (excesso de ligações, ligações dispensáveis). Porém a sabedoria, desde os estóicos aos mestres budistas, sempre foi firme: destruir ligações ou pelo menos deixá-las cair. Não depender de: objectos, pessoas, hábitos. Desligar-se, portanto. E esta sabedoria poderá ser descrita assim: quanto mais a tua solidão se aproxima do um (1), mais tranquilo ficarás no Mundo. Objectivo: nem paixões positivas, nem negativas, tudo neutro.
As ligações são diminuições de liberdade, eis uma ideia antiga: a indiferença como sinónimo de liberdade; mas também, a ligação como estimulação indirecta do medo: as ligações aumentam os pontos onde temos medo.
O expoente máximo do entendimento da ligação, qualquer que ela seja, como ligação perigosa surge na imagem de um suplício arcaico que consistia em "atar um homem são a um cadáver"; ligação a um morto, a uma massa que não se mexe, mas que nos ameaça; massa que é, ela própria, uma matéria que assusta, que nos põe em causa.
Gonçalo M. Tavares (Atlas do corpo e da imaginação, 2013, pp. 129-130)