março 04, 2014

raquel nobre guerra



Quanto de Areia e Brita

os nossos mestres estão mortos insisto
não exagero que perdemos coragem
até à mãe que pariu isto da beata viva

deram-nos a cruz de latada por onde o diabo trepa
separando por jóias os ocidentais dramas
tudo indica que fosse templo de uma reza trena
um still mudo que dissesse que é urgente tocar
à dura-mater do zoo genético, digo

aos que juram que hão-de salvar isto pela literacia
dêem-me as vossas azias cubro-as de cimento quente
esvazio-vos as barrigas, se havemos de nos ler todos
por mãos gitanas

lembrando a médica teórica da mesótes
foi o oráculo enganando que se enganou
estava torto etc, sublinhe-se a morte facilita
a cerveja assiste no limbo perfeito dos deuses
e seus anexos suicidas

torceram-nos ainda as mãos como molhando-as
sobre a cama não é certo o que dormir
e uma presença de coisas exuberando não chega
para que se imponha ao homem a própria vida

adunámos corpo a corpo multiplicámos fornicámos
até ser virgem a porcaria 

deitámo-nos fora com um murro sensualmente
e abrimos as persianas sobre isto

muitos paraísos seguidos de paraísos e muita merda
a cobrir-nos por cima

Raquel Nobre Guerra (Groto Sato, 2012, p.20)