"Nós dois nunca falámos muito a sério sobre estas coisas; afinal, não gostamos de gastar muitas palavras com elas. Mas agora já vês como são vulneráveis os pontos de vista sobre o mundo que as pessoas aceitam sem pensar. Ilusão, é o que é, engano, debilidade mental! Anemia cerebral!O entendimento nelas só dá para ir buscar à cabeça aquelas explicações científicas; cá fora, elas congelam, percebes?
(...)
Tu não me compreendes. Não percebes o que me interessa. Se a matemática me causa problemas (...) é porque eu procuro por detrás dela coisas muito diferentes das tuas, nada de sobrenatural. É precisamente o natural que eu procuro, percebes? Nada fora de mim - é em mim que busco, em mim. Qualquer coisa natural, que, apesar disso, não compreendo! Mas isto é precisamente o que tu não sentes, nem o outro, o da matemática... Ora, deixa-me em paz com as tuas especulações!"
(...)
Ah, como é fácil ser inteligente quando não se conhecem todas as perguntas..."
(...)
Tu não me compreendes. Não percebes o que me interessa. Se a matemática me causa problemas (...) é porque eu procuro por detrás dela coisas muito diferentes das tuas, nada de sobrenatural. É precisamente o natural que eu procuro, percebes? Nada fora de mim - é em mim que busco, em mim. Qualquer coisa natural, que, apesar disso, não compreendo! Mas isto é precisamente o que tu não sentes, nem o outro, o da matemática... Ora, deixa-me em paz com as tuas especulações!"
(...)
Ah, como é fácil ser inteligente quando não se conhecem todas as perguntas..."
Robert Musil
As perturbações do Pupilo Törless, Dom Quixote, 2005
(Trad. João Barrento)