julho 23, 2015

Rui Nunes- Mensageiro Diferido - Arquipélago 
"A nossa dor começa sempre por ser a nossa. Mas há um momento em que descobrimos que nem donos da nossa dor somos. E é isso que inicia um percurso político. É o momento em que descobrimos que essa dor é uma dor de muita gente, em que ultrapassamos esse sentimento de que somos únicos na nossa dor. E de certo modo é isso que torna uma escrita numa escrita madura. Esse momento em que descobrimos, vagamente atónitos, que não somos proprietários de nada. E nem daquilo que achávamos que era mais nosso, porque muito mais nosso do que a felicidade é a dor. Porque a dor dói e a felicidade não se sabe muito bem o que faz. E esse momento em que somos desapossuídos da nossa dor, essa dor não é só tua, essa dor é de imensa gente,  nós descobrimos o outro. E o outro, o outro enquanto o outro na dimensão política, é esse que descobrimos. (...) É nesse momento em que a dor se torna comum (...) em que deixa de ser minha é o momento fulcral de qualquer escrita. É o momento político da escrita." 
Rui Nunes.