![]() |
@ Thomas Hoepker. Trás-os Montes. 1964 |
A VOZ QUASE SILÊNCIO
vai-se perdendo a voz quase silêncio
um corpo agora oco gasto frio
a morte é uma cor que foi escolhida
para encontrar a direcção do vento
o homem que foi um feto que foi um peixe
que foi o ar que foi o sangue e o gesto
atravessa o mar com círculos nos braços
possuído no seu próprio destino
na descoberta dos focos submarinos
ao nível das estrelas mais brilhantes
e no entanto desde há muito extintas
pode encontrar-se o grande amor final
pesar-se no seu som e qualidade
garganta de alcatrão fundente
vai-se perdendo a voz, quase silêncio
Manuel de Castro
in Edoi Lelia Doura: antologia das vozes comunicantes da poesia moderna portuguesa
organizada por Herberto Helder, Assírio&Alvim, 1985