Hoje, voltei. Voltei a antes de ontem. O dia em que escrevias no bloco verborreias da tua memória, empilhando palavras como quem perfila tijolos numa parede sem fundações. Mas fui eu que deixei cair o lápis.
"Desculpa, posso?"- perguntavas.
E eu pensei que poder até podias mas que as minhas unhas estavam uma miséria e que a depilação já tinha dias.
"Não te preocupes com as unhas, só quero apanhar o teu lápis." - adivinhaste?
[O corpo da mulher, na sua perspectiva de mulher, há-de ser sempre uma vertigem. ]
Num movimento brusco, escondi os dedos, como se calçasse meias-pontas mas sem a candura de um elevé. Entregaste-me o lápis.
- Obrigada. Este não serve para escrever. Só serve para sublinhar.
Continuaste a escrever. E eu a sublinhar.