[pego na garrafa para a encetar]
somente decantar no meu olhar
o corpo fluído da mulher sentada
e assentar em finas memórias
as suspensas partículas dos seus gestos
o corpo fluído da mulher sentada
e assentar em finas memórias
as suspensas partículas dos seus gestos
[encho o copo bem cheio]
corpo denso de invasões florais
especiarias verdes frutos carnais
Touriga e Carbenet
[sirvo-me de aroma]
a mulher crua
vinho de cor em escrita
de contraste em luz
na parede que se diga
na parede que se diga
[é tinto]
cheiro a sangue da mulher
a transparência de si
a transparência de si
o corpo
rede absurda
[trago o oxigénio ao copo]
dissecados os taninos
no corpo jovem
do tinto de casca de uvano corpo jovem
[é lágrima no vinho que o copo verte. digo]
o álcool em vapor flui no corpo da mulher casta
o álcool em vapor flui no corpo da mulher casta
tinto frutado Syrah
oxigénio que se afasta
e regressa no olhar profundo
da lágrima da mulher
da lágrima da mulher
[e é o eco do silêncio do copo depois do brinde. responde]
silêncio_______________
[sirvo-me de um gole na língua inteira, à boca cheia]
mulher que se inspira
textura ácida verdadeira
delicada pele
maquilhagem caseira
[não sou mulher! diz]
nem essência-mulher
nem lógica-mulher
[e inspiro-a pla boca e sorvo-a plo nariz]
[és mulher em carne sólida. de sangue em lágrima vertida no copo depois do eco do silêncio do brinde. corpo absurdo sentado, sólido e concreto... aqui! não, não és imagem de mulher. és o seu olhar. és o seu rosto. és mecanicamente mulher. naturalmente mulher! distraidamente mulher]
[e aqui me confesso, no paraíso, exposto]
encho o copo novamente, bem cheio,
da mulher
do corpo da mulher
da mulher no seu corpo
e bebo-o num só trago